Sempre me tive que sujeitar a perguntas incómodas, irritantes e por vezes ridículas. Durante a minha infância, as tias, vizinhas amigas da avozinha e afins sempre acharam a minha altura motivo de grande espanto.
"Mas que rica moça, hã, tá uma matulona!"
Ao que eu retribuia com o meu mais amarelo sorriso, tentando não roer a minha própria língua de tanta raiva que tinha por aquela palavra começada por M. Matulona. Não era uma menina cutchy, nem fofinha, mesmo que fizesse trancinhas e me vestisse de cor-de-rosa. Era Matulona. E isto repetia-se vezes sem conta, mesmo que a pessoa me visse passado uma semana, na opinião dela já eu tinha crescido mais meio metro.
"Não senhora, não é você que está a mirrar, sou eu que como adubo ao pequeno almoço, esteja descansada"
A meio da adolescência, quando ultrapassei os anos sofridos de falta de proporcionalidade corporal, as observações eram outras:
"Mas és mesmo alta, sabias?" - "Humm, a sério?? Vivo comigo mesma desde que nasci, e tenho quase a certeza que tenho um espelho em casa, além de que felizmente sei ler e interpretar o meu bilhete de identidade, que por acaso lá tem a minha altura,e para o caso das dúvidas quando compro calças não tenho que fazer bainha. Ah, e daqui de cima vejo que tens falta de retocar as raízes, querida"
É claro que eu nunca digo nada disso. De seguida vem a minha personal favourite:
"Então e por acaso jogas basket? Olha e já pensaste em ir para modelo, olha que se fosse a ti, nem pensava duas vezes!"
Mas será que uma pessoa de um metro e oitenta não tem mais opções de vida a não ser jogar basket (que por acaso até gosto de dar uns toques muito de vez em quando mas não passa disso) ou ser modelo?? É que sinceramente, nunca vi ninguém abordar uma rapariga muito gorda e perguntar-lhe se por acaso é cantora de ópera e se não o é, devia considerá-lo como carreira de sucesso. Ou então uma rapariga mais peluda e dizer-lhe que devia ir para o circo tentar atingir o estatuto de mulher barbuda.
"Mas devias mesmo, e olha que daqui a uns aninhos já é tarde demais, devias já estar a ir a castings, fazer books, portfolios.. Tic toc tic toc!"
Sim, realmente vejo estou a perder tempo na universidade a tirar um curso. É que há gente que adora desperdiçar a vida , anda prai a estudar, em vez de ser fotografada, vomitar tudo o que come e andar nas passerelles meio nua. Chiça!
O engraçado é que eu, como adoro perguntas deste género, um lindo dia achei que a minha vida estava demasiado normal e recusei-me a comer animais:
"A sério, és vegetariana?? Mas comes peixe, certo?"
Sem comentários. Isto do vegetarianismo fica para outro post, que agora vou acabar de fazer a minha mala para amanhã.
Xo, G.
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