Continuando a viagem pelas memórias da minha infância, outra coisa que adorei rever na aldeia onde cresci foi o minimercado da Dona Paulina. Ah, tantas vezes que tive que subir a estradinha da minha casa até lá, passando pela igreja e pelos HOMENS. Sim, os Homens. Os Homens eram umas figurinhas patéticas, uns mais velhotes que outros, que se sentavam nos bancos à frente da igreja e que lá ficavam o dia todo na palheta e admirar as meninas que passavam. Sim os Homens existem em todo o lado, mas nas pequenas aldeias existem os de pior espécie. Tantas vezes que dizia à minha mãe : "Mas mãe eu não quero ir comprar pão à da Dona Paulina, estão lá os Homens". Ao que a minha mãe se ria e dizia sempre algo do género :" Don´t be silly darling, just go up quickly, don't take any notice of the Homens, but if they say anything just tell them to stick it". Nesta altura ela tentaria desesperadamente fazer o gesto com a mão que até este dia nunca conseguiu dominar. Juro, ela bem que tenta mas aquele dedinho do meio não consegue ficar em pé sozinho. Ela tem que agarrar nos outros dedos todos, muito concentrada para poder fazer o gesto mas muitas vezes ela não tem paciência e estica o dedo indicador. é algo admirável de se ver quando ela se irrita ao volante e lá levanta o dedo da melhor forma que sabe ao que as pessoas se limitam a olhar para o céu admiradas, perguntando-se a si mesmas para o que o raio é que aquela cámon maluca está apontando.
Mas voltando ao minimercado e aos Homens. Foi aí que começou o meu trauma por tudo o que eram trabalhadores das obras, velhotes rebarbados, bêbedos e basicamente qualquer figura masculina acima dos 19 anos (sim mais que isso para mim era VELHO E NOJENTO).Os Homens do minimercado da Dona Paulina.Mas não lhe chamem mini-mercado, POR FAVOR. Para ela, aquele estabelecimento comercial é de maior calibre que qualquer Jumbo ou Continente. Passo a explicar: embora a D.Paulina seja dona de uma loja minúscula, que vende apenas o básico e que é frequentado apenas por gente da aldeia e uns quantos estrangeiros que lá vivem pelos arredores pois adoram o sossego da zona, ela investiu em....
...esperem por isto:
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portas deslizantes!
Sim, portas deslizantes, daquelas automáticas, presentes em qualquer hipermercado. Portas de vidro deslizantes que dão para a lojinha mais singela e sem graça à face da terra.
Quando ela deu este passo na modernização da loja, foi aí que aprendi uma das maiores lições da minha vida.
Qualquer um de nós, até o mais insignificante, pode sonhar alto.
In illo tempore...
ResponderExcluirCostumo chamar-lhe «o tempo da vida barata», em que as fotografias a cores eram todas amareladas.